quarta-feira, 9 de maio de 2018

Mesmo com obras paradas, Comperj consome R$ 2,7 bilhões da Petrobrás




Petróleo. Estatal suspendeu construção do Complexo Petroquímico do Rio em 2015, mas ainda teve gastos bilionários para paralisar as obras de vez: ideia agora é retomar uma pequena parte do projeto, com um novo contrato estimado em R$ 1,9 bilhão

Recursos pagaram contratos e obras realizadas; Comperj é um dos maiores símbolos da corrupção que envolveu a Petrobrás Após anunciar a paralisação das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a Petrobrás ainda teve gastos de R$ 2,7 bilhões com o projeto. Em 2015 e 2016, os recursos pagaram obras já realizadas no complexo e encerramento de contratos. No ano passado, houve novos desembolsos, para a retomada da unidade de processamento de gás natural, que custará mais R$ 1,9 bilhão. Localizado na cidade de Itaboraí, o Comperj começou a ser construído em 2008 com o objetivo de processar petróleo e gás extraídos do pré-sal e se tornou um dos maiores símbolos da corrupção que envolveu a Petrobrás. As investigações desembocaram na Operação Lava Jato.

Mesmo depois de anunciar a paralisação das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a Petrobrás ainda teve gastos de R$ 2,7 bilhões com o projeto. Em 2015 e 2016, o dinheiro serviu para pagar obras já realizadas e encerrar contratos. No ano passado, houve novos desembolsos necessários para retomar uma pequena fatia do projeto – uma unidade de processamento de gás natural, que começa a ser construída este ano, para atender o pré-sal.

O Comperj, na cidade de Itaboraí (RJ), é um dos maiores símbolos da corrupção que envolveu a Petrobrás e que iria desembocar na Operação Lava Jato. O complexo, que deveria processar o petróleo e o gás extraídos no pré-sal, começou a ser construído em 2008, com um custo estimado inicialmente em US$ 6,1 bilhões. Mas as fraudes na construção elevaram essa conta estratosfericamente.

Em 2014, ainda em fase inicial de implementação, o projeto começou a ser abandonado e, em 2015, o então presidente da companhia, Aldemir Bendine, atualmente preso na Lava Jato, anunciou sua suspensão. O Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que as perdas da estatal com o projeto chegaram a US$ 12,5 bilhões – ou quase R$ 45 bilhões, no câmbio de ontem. Em seu relatório, o ministro do TCU Vital do Rêgo disse que foram identificados indícios de gestão temerária, “caracterizada por decisões desprovidas das cautelas necessárias”, que resultaram em um “empreendimento inviável economicamente”.

Mesmo parado, o Comperj nunca deixou de pesar no caixa da Petrobrás. Em 2015 e 2016, foram R$ 2,55 bilhões de gastos. Segundo a estatal, “ao longo de 2015, a desmobilização de contratos da Refinaria Trem 1 (primeira fase do projeto) ocorreu de forma gradativa. Assim, o investimento medido naquele ano contempla custos de obras realizadas até a paralisação. O ano de 2016 contempla custos de encerramentos contratuais”.

Em 2017, foram gastos mais R$ 166 milhões, dessa vez para preparar a retomada de uma fatia das obras. A estatal passou a ter despesas com a preparação das licitações da planta de gás natural e de unidades de apoio para as obras. “Para permitir a realização de atividades de contratação em Itaboraí, são necessários contratos de apoio, como: operação de subestação e fornecimento de energia elétrica, fornecimento de água, TI, brigada de incêndio, segurança patrimonial”, entre outras atividades, disse a empresa.

Novo contrato. Com a unidade de processamento de gás, para cuja construção foi escolhido um consórcio formado pela chinesa Shandong Kerui e a brasileira Método Potencial – um contrato de R$ 1,9 bilhão –, o Comperj terá em funcionamento apenas uma ínfima parte do que foi projetado. Mas, para a Petrobrás, é uma parte importante.

Sem essa unidade, não haverá para onde escoar o gás natural que será produzido a partir de 2021 na área de Libra, na Bacia de Santos. A opção seria queimar o combustível nas plataformas, o que traria prejuízo ambiental, financeiro e geraria multa por parte da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Por Fernanda Nunes, em O Estado de São Paulo

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