segunda-feira, 31 de julho de 2017

Morcegos se tornam "guardiões" de biblioteca equilibrando cultura e natureza

Biblioteca Joanina, da Universidade de Coimbra. EFE/Carlos García
A colônia de morcegos mais conhecida e mais falada em Portugal é a que vive na Biblioteca Joanina, da Universidade de Coimbra, e que desde o século XVI se encarrega de preservar suas centenas de volumes para que não sejam devorados pelos insetos conhecidos como "bibliófagos".
Cada morcego que habita na valiosa Biblioteca de Coimbra (Patrimônio da Humanidade), pode em apenas uma noite chegar a caçar 500 insetos que sobrevoam entre os exemplares.
Por isso, os responsáveis pela biblioteca, construída a mando do rei João V - daí o nome de Joanina -, asseguram que seus volumes foram conservados perfeitamente, apesar das numerosas fendas e circuitos de ventilação por onde passam os insetos.
Todas as noites, antes do fechamento da biblioteca, uma obra-prima barroca onde se conservam os exemplares próprios da cultura europeia entre os séculos XVI e XVIII, são preservadas centenas de volumes com cobertores de couro, com o objetivo de que as cópias não se deteriorem com as fezes dos morcegos.
A certeza da existência da colônia, onde convivem duas espécies de morcegos, foi confirmada recentemente pelo pesquisador português, Jorge Palmeirim que, apesar de não ter visto aos animais, conseguiu medir os sons emitidos por eles quando saem para voar à noite.
Especialmente, é relevante a caça da carcoma, cuja larva cava galerias sinuosas muito aparentes nos livros e pode fazer verdadeiros estragos tanto em papeis como nos couros dos livros.
Os conhecidos como "traças", companheiros das carcomas, são também objeto de caça para os morcegos, pois, ao invés de fazer galerias, acabam consumindo as folhas de papel, de preferência dos livros antigos.
No entanto, o aumento de exemplares e a passagem do tempo fizeram com que os morcegos não sejam suficiente como medida de proteção dos livros da Biblioteca Joanina, uma das principais atrações turísticas de Coimbra.
Segundo informações passadas pela universidade à Agência Efe, recentemente foi adquirida uma câmara de anoxia de seis metros cúbicos de capacidade para tratar o fundo bibliográfico.
O objetivo da câmara, que custou cerca de 70 mil euros para a universidade, é a desinfecção dos livros, evitando assim a ação dos insetos.
Nos três andares da Biblioteca Joanina, são preservados 60 mil volumes de diversos materiais, todos editados até o final do século XVIII, e, em conjunto com a Biblioteca Geral da universidade, são contabilizados 1 milhão de volumes.
Além de livros, a Biblioteca Joanina guarda jornais, revistas, manuscritos muito particulares e coleções especiais, entre os destaques estão uma notável coleção de mapas antigos e um conjunto extenso e incomum de documentos musicais dos séculos XVI e XVIII.
Nesta biblioteca, considerada uma das mais importantes do mundo, existem exemplares dos mais singulares, como a primeira edição dos "Os Lusíadas", uma bíblia hebréia editada na segunda metade do século XV da que apenas existem 20 em todo mundo.
Também chama a atenção a "Bíblia Latina das 48 linhas", chamada assim, pois cada página possui 48 linhas.
Esta bíblia foi impressa no ano de 1462 por dois sócios de Gutenberg e é considerada uma das mais belas entre as quatro primeiras bíblias impressas.
A Biblioteca Joanina foi construída sobre uma prisão medieval e, mais tarde, as suas celas se usaram como prisão acadêmica para os maus alunos.
Por Carlos García, da EFE.