quarta-feira, 31 de maio de 2017

Tem que tirar esse cara, disseram Aécio e Joesley sobre chefe da PF


O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou ao empresário Joesley Batista ter pressionado o presidente Michel Temer, junto com outros empresários, para que fossem feitas mudanças na Polícia Federal que incluíam a substituição do diretor-geral do órgão, Leandro Daiello.
A conversa foi gravada pelo próprio Joesley no hotel Unique, em São Paulo, em 24 de março, e anexada ao acordo de delação que o grupo J&F fechou com a Procuradoria Geral da República. Aécio disse a Joesley que o governo deveria aproveitar a crise gerada pela Operação Carne Fraca para a troca.
Joesley ponderou que era uma boa chance para trocar Daiello. “Não vai ter outra. Porque nós nunca tivemos uma chance onde a PF ficou por baixo, né?”, disse o empresário. Aécio concordou: “Aí vai ter quem vai falar, ‘é por causa da Lava Jato’. [O governo pode responder] ‘Não, é por causa da Carne Fraca’”.
“Tem que tirar esse cara”, disse Joesley. Aécio repetiu: “Tem que tirar esse cara”.
Na conversa, Daiello não foi citado diretamente, mas sim de forma cifrada. Em determinado momento, por exemplo, Aécio disse que “ele próprio [Daiello] já estava preparado para sair”.
Em outro ponto do diálogo, afirma era uma boa hora para o governo fazer um “mea culpa” e “o cara da Polícia Federal chegar e cair”.
Na passagem entre os governos Dilma Rousseff e Michel Temer, no ano passado, circularam rumores de que Daiello estava disposto a deixar a direção-geral da PF. Ele ocupa o cargo desde 2011. Aécio criticou ainda a nomeação de Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça, dizendo que ele “não dá nenhum alô”, sugerindo que não tentava interferir na Lava Jato. Serraglio deixou o cargo neste domingo (29) e Torquato Jardim o substituiu.
Aécio contou a Joesley que outros empresários estavam “pressionando” Michel Temer a tomar medidas contra a PF. Ele disse que participou de um jantar com Temer, o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, e uma pessoa citada apenas como Pedro.
“Pressionaram. A polícia tem que fazer um gesto. Errou. Não adianta os caras ficarem falando que não, a Polícia Federal tem que falar: ‘Ó, realmente foi um erro do delegado que, enfim, não dimensionou a porra. Era um negócio pontual. Em três lugares. Já está contido e tal’. O laudo, pãpãpã, e zarpar com esse cara”, disse o senador.
Aécio disse que estava pressionando Temer para que apoiasse o projeto que trata de “abuso de autoridade”.
OUTRO LADO
O encontro narrado pelo senador, entre Temer e banqueiros, ocorreu na noite anterior ao diálogo, na casa do empresário Carlos Jereissati. O senador confirmou à reportagem ter viajado com Temer para São Paulo, conforme disse no diálogo com Joesley. O Palácio do Planalto informou que o presidente deu carona ao senador em 23 de março.
O governo não disse qual assunto foi tratado. A asses-soria do tucano disse que o senador “teve um longo despacho sobre a pauta de reformas”. O Bradesco disse que Trabuco esteve com Aécio no dia 24, em encontro com o presidente do BB, Paulo Caffareli, para tratar da mudança na presidência da Vale.
Novo ministro defendeu interesse da Petrobras
Ele foi sócio de banca contratada pela estatal
RUBENS VALENTE DE BRASÍLIA
Crítico da Lava Jato, o novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, defendeu interesses da Petrobras no TCU (Tribunal de Contas da União) e foi sócio, até 2014, de um dos principais escritórios contratados pela petroleira. Ministro da Transparência até a semana passada, Jardim disse à Folha, via assessoria, que não irá divulgar os seus clientes porque “os contratos de advocacia são confidenciais”.
No TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Jardim foi advogado da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB-MA), cujo pai, o expresidente José Sarney (PMDB-AP), é alvo de inquérito derivado da Lava Jato. Torquato advogou para Roseana durante a campanha presidencial de 2002, quando a então governadora saiu candidata pelo PFL. Ele também defendeu no TSE a ex-ministra Marina Silva (Rede).
A Petrobras é o foco do escândalo desvendado pela Lava Jato. De 2003 a 2016, o escritório de advocacia Siqueira Castro, considerado um dos maiores do país, fechou contratos de cerca de R$ 35,8 milhões com a Petrobras.
“Torquato Jardim já atuou como sócio do escritório Siqueira Castro Advogados, encerrando a parceria em 2014. O escritório, porém, não fornece dados sobre processos nos quais atua”, afirmou a assessoria do escritório.
O sistema processual do TCU indica que Jardim atuou como representante legal da Petrobras em diversos procedimentos, incluindo auditorias. A assessoria do ministro afirmou à Folha que Jardim “registrou seu impedimento para exercer a advocacia na OAB-DF, em junho de 2016, quando aceitou assumir o Ministério da Transparência”.
A Petrobras informou que Jardim se afastou das causas envolvendo a estatal no ano de 2014.

Por TALITA FERNANDES LETÍCIA CASADO RUBENS VALENTE, na Folha de São Paulo

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terça-feira, 30 de maio de 2017

Marca é onipresente em supermercados dos EUA


O peso da JBS no mercado americano pode ser medido pela onipresença das 28 marcas do grupo nas prateleiras de carnes e congeladores de alimentos processados nos supermercados pelo país.
Após a aquisição da Swift, em 2007 -que marcou a entrada da JBS no país, e de assumir o controle acionário da Pilgrim's Pride, em 2009, a empresa se tornou a maior produtora de carne nos Estados Unidos, à frente das também gigantes Cargill e Tyson Foods.
Com R$ 117,4 bilhões de receita líquida só nos EUA em 2016, a operação americana representou 68,9% de toda o faturamento da JBS no último ano. Apenas a venda de carne bovina nos EUA respondeu por 42% da sua receita em todo o mundo.
Com sede na cidade de Greeley, a cerca de 100 km de Denver, no Colorado, a JBS USA concentra cerca de 27% dos funcionários de toda a empresa, com 63,5 mil empregados. São 44 unidades de processamento de carne bovina, suína e de frango, sem contar as unidades de confinamento de animais e as fábricas de ração.
Diante do sucesso da operação nos Estados Unidos, o grupo decidiu abrir o capital da JBS Foods International na Bolsa de Nova York neste ano, mas o plano foi adiado antes mesmo de virem à tona a gravação feita por Joesley Batista, um dos donos da JBS, do presidente Michel Temer e o conteúdo de sua delação premiada.
O plano de adiar a oferta de ações -prevista para ocorrer até junho- foi uma resposta à Operação Bullish, deflagrada pela Polícia Federal no dia 12, que investiga justamente as compras das marcas americanas Swift e Pilgrim's Pride com investimento do BNDES.
No primeiro caso, da Swift, que em 2007 era a terceira maior empresa do setor nos EUA, o investimento foi de US$ 1,1 bilhão. O TCU (Tribunal de Contas da União) apontou que o banco usou "recursos superiores ao necessário" e não houve "acompanhamento adequado" da operação.
Na operação envolvendo a Pilgrim's Pride, a suspeita é que, ao converter a dívida da JBS - que havia emitido US$ 2 bilhões em debêntures- em ações, o BNDES tenha tido um prejuízo de US$ 267 milhões.
Diante do escândalo em que os irmãos Batista são protagonistas no Brasil, um escritório de advocacia de Nova York, o Rosen Law Firm, já está reunindo acionistas para entrar com uma ação coletiva contra a empresa nos EUA por divulgar informações "enganosas" aos investidores.
Como forma de blindagem, a JBS tenta fechar um acordo de leniência com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos para evitar punições por atos de corrupção cometidos fora do país.

Por Isabel Fleck, na Folha de São Paulo

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segunda-feira, 29 de maio de 2017

Investigação é apartidária


 As teses conspiratórias que começam a surgir depois da divulgação dos áudios das conversas do empresário Joesley Batista com o presidente Temer e o senador Aécio Neves estão erradas. Os que acham que é uma conspiração contra Temer, estão agindo da mesma maneira que agiram os que achavam que a Lava-Jato era uma conspiração contra Lula. As investigações são apartidárias, independentes e estão revelando um esquema de corrupção sistêmico, que domina completamente a máquina política. Todos são iguais, metidos em corrupção. Acho que o PT exacerbou a corrupção que já existia no Brasil há muito tempo e por isso tem uma culpa relevante nessa crise política, moral e ética que dominou o pais. Mas não é por isso que se possa defender que “os nossos malvados favoritos” podem fazer o que querem. É uma falta de compreensão do que seja democracia e cidadania. A conversa do Temer com o Joesley não pode acontecer com um presidente da República.
Por MERVAL PEREIRA, em O Globo

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Um teatro de envergadura



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"The Square" ganha Palma de Ouro no Festival de Cannes

Elenco de "The Square" no tapete vermelho de Cannes. EFE/EPA/Julien Warnand

Cannes (França), 28 mai (EFE). - O filme "The Square", dirigido pelo sueco Ruben Ostlund, levou a Palma de Ouro neste domingo do Festival de Cannes, que na 70ª edição também premiou como melhores interpretações a alemã Diane Kruger e o americano Joaquin Phoenix.
Foi uma ampla lista anunciada pelo presidente do júri, Pedro Almodóvar, que incluía um prêmio especial para Nicole Kidman. Títulos e nomes esperados na maioria dos casos, exceto o prêmio principal que foi para um filme de humor e ironia, que não aparecia entre os favoritos.
O Grande Prêmio do Júri, o prêmio da crítica, foi para o francês "120 Beats Per Minute", de Robin Campillo, que narra a história de um grupo de ativistas durante epidemia da Aids no anos 80. Segundo Almodóvar, um longa que o emocionou "do início ao fim".
No campo das atuações se cumpriram todos os prognósticos. A alemã Diane Kruger levou o prêmio a melhor atriz pelo drama de uma mulher em busca de vingança, após a morte do marido e do filho em um atentado terrorista em "In the Fade", de Fatih Akin.
"Não posso aceitar este prêmio sem pensar em todos os que foram afetados pelo terrorismo, que tentaram reconstruir suas vidas e seguir adiante", disse a atriz, ao subir ao palco.
Já a láurea de melhor ator foi para Joaquin Phoenix, que revelou que não imaginava vencer, pela atuação no suspense "You Were Never Really Here", da escocesa Lynne Ramsay.
O prêmio de melhor roteiro teve dois vencedores: "The Killing of a Sacred Deer", do grego Yorgos Lanthimos; e ou "Were Never Really Here".
Na categoria melhor direção quem venceu foi Sofia Coppola, por "The Beguiled", um filme de amor passado na época da Guerra de Secessão e protagonizado por Nicole Kidman. Apesar de muito aplaudido, a produção não estava entre as apostas dos especialistas.
A lista de premiados teve ainda o longa russo "Nelyubov", de Andrey Zvyagintsev, que faz uma crítica sobre a sociedade atual e que ganhou o Prêmio do Júri.

EFE


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17 de fevereiro de 1.600 é uma data fatídica. Neste dia, um herege foi executado no Campo das Flores, em Roma. Giordano Bruno foi aprisionado, torturado e, após dois julgamentos, condenado a morrer na fogueira do Santo Ofício. Seu crime? Acreditar na ideia de que o universo é infinito, de que ao redor de cada estrela gravitam planetas, e na concepção de que cada planeta irradia vida.

Ex monge dominicano, nos oito anos em que padeceu na prisão se submeteu a todo tipo de violência e opressão para que se retratasse, renegando suas convicções. O brutalizaram em vão. A congregação católica não logrou o êxito que obteria, poucos anos depois, com Galileu Galilei. Este, para não morrer na fogueira, teve que, de joelhos, abjurar toda a sua consistente obra científica e filosófica.

A ortodoxia da Igreja Católica de então concebia a terra como um planeta único no universo, resultado da intervenção direta de Deus. Um axioma que – em hipótese alguma – poderia ser questionado.

Mas, Giordano Bruno descortinou, antes da invenção do telescópio, a infinitude do universo. E que na imensidão do cosmos, existia não um, mas um número infinito de planetas. Sendo assim – questionaram os guardiões da fé – “cada planeta teria o seu próprio Jesus? Heresia! Blasfêmia! Sacrilégio! ”.

Suas ideias, formulações e livros foram proibidos, incinerados e incluídos no Index Librorum Prohibitorum, o Índice dos Livros Proibidos. 

Num ato de misericórdia, os condenados, antes de arderem no fogo da santa fogueira, eram estrangulados e mortos. Mas com Giordano Bruno foi diferente. Suas formulações representavam uma ameaça de tal dimensão aos alicerces da doutrina católica que a sentença estabeleceu que morresse diretamente em decorrência das chamas, línguas de fogo e labaredas originárias da fogueira. Seu pecado? Declarar que a terra não era o único planeta criado por Deus.

Este é o esteio de onde emerge a peça teatral “Giordano Bruno, a fogueira que incendeia é a mesma que ilumina”.

A trama se desenrola no intervalo entre a condenação do filósofo italiano e a aplicação da pena de morte. A ficção contextualiza o ambiente de transição entre a baixa idade média e a idade moderna. O ambiente de ‘caça às bruxas’, o absolutismo e o autoritarismo políticos, a corrupção endêmica, o feudalismo e a ascensão da burguesia, a ortodoxia e os paradigmas religiosos, o racionalismo e o iluminismo compõem o substrato por onde se movimentam as personagens da peça.

O conselheiro do papa Clemente VIII, o octogenário Giovanni Archetti, comanda - do Palácio do Vaticano - uma intrincada rede de corrupção e, através dela, planeja desposar a mais bela jovem da Europa, Donabella de Monferrato. A formosa mulher admira e integra um grupo de seguidores de Giordano Bruno. Para convencê-la acerca do matrimônio, o poderoso velhaco tenta ludibriá-la e mente, afirmando que promoverá a revisão do julgamento do famoso filósofo, anulando a pena de morte imposta. Sem ser correspondido, o poderoso Giovanni Archetti ama Donabella, que é amada pelo noviço Enrico Belinazzo, um jovem frade de corpo atlético que, por sua vez, é amado pelo vetusto padre Lorenzo, o diretor do seminário. 

De modo que conflitos secundários são explorados evidenciando os paradigmas da baixa idade média, os fundamentos dos novos modelos, dos novos arquétipos que surgiam em oposição ao poder do imperador do Sacro Império, do Papa e dos reis; o ocaso do feudalismo, suplantado pela burguesia que emerge como a nova classe dominante; a degeneração da política e a degradação moral e dos costumes. 

Adentre este universo povoado por conflitos, disputas, cizânias e querelas. Um enredo que, lançando mão de episódios verídicos da narrativa histórica, ambienta novelos densos e provocativos instigando os leitores a responder se o autoritarismo e a corrupção que vincaram o interim entre os séculos XVI e XVII não seriam equivalentes – em extensão, volume e grandeza - aos verificados nos dias de hoje.


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domingo, 28 de maio de 2017

Homenagem de cineasta brasileiro a amigo morto na África é exibida em Cannes



 
EPA/SEBASTIEN NOGIER
O cineasta brasileiro Fellipe Barbosa levou a Cannes neste domingo o filme com o qual homenageia seu amigo de infância Gabriel Buchmann - que morreu em 2009 ao tentar escalar o Monte Mulanje, no Malawi, na Africa, dispensando um guia local - e que narra os últimos dias do fatídico ano sabático do economista, que tinha 28 anos.
"Gabriel e a Montanha", projetado na Semana da Crítica da 70ª edição do prestigiado festival, conta a passagem do economista por Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Malawi, onde tentou chegar ao pico mais alto do país, com mais de 3 mil metros de altitude.
A história em si, como o diretor contou à Agência Efe em Cannes, tinha "muitos mistérios". "Como desapareceu, por que estava sozinho, por que dispensou seu guia. Essas perguntas eram muito cinematográficas. E, depois, havia algo também sobre a alegria de viver, a busca da pureza. Era alguém que queria engolir o mundo", afirmou.
O corpo de Gabriel foi encontrado 19 dias após seu desaparecimento, e é o ponto de partida do longa de Barbosa, que levou à grande tela algumas das pessoas com as quais o amigo se relacionou na vida real.
A mãe e a irmã do jovem economista, assim como amigos comuns com o diretor, estiveram hoje na projeção em Cannes, desafio que este último disse considerar "um sonho".
A família de Gabriel, acrescentou Barbosa, lhe proporcionou material pessoal, e pessoas que ele conheceu lhe relataram os encontros que tiveram, com os quais o cineasta terminou de montar o quebra-cabeça.
"Tentei me ajustar o máximo possível à verdade, o que não significa que não tenha sintetizado muitas coisas em alguma cena. É uma interpretação da verdade, a verdade de cada um que me deu o seu ponto de vista, e quis ser muito fiel ao que me contaram, ainda que às vezes houvesse contradições", disse.
O filme é também uma crítica velada a todos os estrangeiros com um sentimento de superioridade em países pobres, que apesar das advertências assumem riscos desnecessários sem conhecer o local.
"Pode ser que haja certo aspecto colonialista, mas não é o mesmo que em um europeu. Gabriel não se passa por um 'muzungu' (homem branco), e não me parece ridículo. Tem parte de verdade, porque ainda que fosse branco de pele, não acredito que seja normal para muitos viajar assim, de uma forma tão pobre como ele fez", contou.
As gravações duraram 70 dias e foram feitas também nos quatro países pelos quais Gabriel passou nesse último trecho da viagem, em que esteve acompanhado em parte pela namorada, que ajudou o cineasta no relato dos acontecimentos.
Este filme é o quinto de Barbosa na direção, após "Casa Grande" (2014), o documentário "Laura" (2011) e os curtas "Beijo de Sal" (2007) e "La Muerte es Pequeña" (2005).
"Não faço os filmes para mim, mas tampouco só para os outros. É uma combinação. Ao escrever o roteiro, sempre tento pensar no que as pessoas vão sentir. O filtro é tentar sentí-lo, ainda que às vezes, quando se trabalha sete meses na montagem, seja difícil", comentou.
Atualmente, ele está focado em "City of Alex", o primeiro filme em inglês de sua carreira, coproduzido com Estados Unidos e Alemanha, e em outro projeto menor, que será desenvolvido no Brasil.
"O sistema público (brasileiro) de financiamento funciona muito bem na atualidade. Houve uma grande renovação do cinema brasileiro nos últimos 15 anos", opinou Barbosa, que apresentou pela primeira vez um dos seus filmes em Cannes.
EFE - Marta Garde.





 Conforme o momento histórico, Shakespeare foi construindo nuvens com peças dotadas de diferentes características, propriedades específicas para cada fase de sua produção literária. “Medida por Medida” e “Bem está o que bem acaba” integram o que se convencionou denominar “comédias sombrias”, peças onde tensão e situações cômicas as categorizam em desacordo com outras comédias do dramaturgo como “A comédia dos erros”, “As alegres comadres de Windsor” e “Sonho de uma noite de verão”. E a explicação é singela: foram elaboradas no mesmo período em que o autor escreveu Hamlet e Otelo, grandes obras da literatura universal que elevam a tragédia ao ápice do gênero teatral. 

Na peça “Medida por Medida”, com inusitada habilidade, Shakespeare discute administração pública, direito e corrupção de maneira magistral. 

O universo da administração pública adotado na peça é largo e profundo. Entrelaçados às cenas emergem assuntos como

- o autoritarismo oriundo do poder divino do rei, as prerrogativas do monarca e a antecipação do liberalismo;
- a descentralização administrativa;
- o abuso do poder na administração pública;
- os limites da delegação de competência;
- accountability, fiscalização e controle;

Quanto ao direito, lança um forte debate sobre quesitos por demais importantes para a humanidade: 

- a aplicabilidade das leis mesmo quando se apresentam fora de uso por um longo tempo, gerando disfunções de toda ordem;
- a execução da pena quando esta resulta de uma lei extremamente dura;
- a discricionariedade do juiz na aplicação da lei, a subjetividade do magistrado e a fragilidade dos paradigmas que orientam o sistema de decisões no judiciário;
- a distribuição da justiça.

Especial enfoque o Bardo dá ao tema da corrupção, mostrando:

- a moral e a ética corroídas pelos interesses pessoais e pelo tráfico de influência;
- a força do poder para alterar o caráter dos administradores.

Neste aspecto Shakespeare nos faz refletir sobre a utilização do Estado enquanto instrumento de satisfação dos interesses pessoais.

E todo este universo é entrecortado por discussões sobre o amor e o ódio, a moral e o imoral, o sexo e a abstinência, a clausura e a liberdade, a prisão e a salvação, a vida e a morte.

O presente livro, além de disponibilizar a versão original de “Medida por medida” de Shakespeare, apresenta um conjunto de ensaios contextualizando a peça teatral às questões que incendeiam os panoramas contemporâneos brasileiro e latino-americano como corrupção, estado e administração pública; controle e accountability; direito e administração da justiça. 

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sábado, 27 de maio de 2017

Governo adia mudanças no Fies


COM INADIMPLÊNCIA e crise política, programa sofre com indefinições e queda de novos contratos
Principal estratégia do governo federal para ampliar o número de vagas no Ensino Superior, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) tornou-se um abacaxi difícil de descascar pelo governo Temer. Na semana passada, em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que mudanças para tornar o programa mais sustentável seriam anunciadas nos próximos dias. No entanto, com a crise política após a delação da JBS, o Ministério da Educação (MEC) não tem previsão de quando vai apresentar o novo modelo de financiamento.
O Fies foi criado em 1999, mas ganhou fôlego a partir de 2011. Levantamento feito pela consultoria educacional Hoper aponta para uma evolução de 76 mil novos contratos em 2010 para 731 mil em 2014. No entanto, mudanças nas regras a partir de 2015 fizeram o número de novas vagas cair para 196 mil no ano passado.
Com isso, estudantes que contavam com o financiamento tiveram de adiar o sonho de concluir a graduação. É o caso de Daiane Campos Marquisio, 36 anos. A moradora de Viamão estava no quinto semestre de Direito, mas teve de abandonar as aulas porque não conseguiu mais pagar as mensalidades.
- Eu fiz o Enem, consegui a pontuação necessária para o Fies, mas não tinha vaga suficiente no meu curso. Sem financiamento, não tenho como voltar (para a faculdade) - lamenta.
O Fies oferece financiamento estudantil a juros subsidiados pelo governo em instituições privadas de Ensino Superior. O MEC alega que houve gestão irresponsável do programa - auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta para uma taxa de inadimplência de quase 50%. Entre as propostas em análise, está a ampliação na participação das instituições de ensino e dos estudantes, com pagamento de parte do valor ainda durante a graduação. Também se cogita uma parceria com instituições financeiras privadas para viabilizar os financiamentos.
Presidente da Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES),José Janguiê Diniz defende mudanças para tornar o programa mais sustentável, mas espera que não ocorram novas reduções no número de vagas pelo Fies:
- A nossa visão sobre o Fies é de que tudo de ruim já aconteceu. Esperamos que essa proposta do MEC seja mais estável, com regras claras e que, pelo menos, mantenha-se o número atual de vagas.
ALTERNATIVAS PARA MANTER O PROGRAMA
Presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe-RS), Bruno Eizerik afirma que as instituições de ensino têm sido surpreendidas a cada semestre com mudanças no Fies e que os cortes têm levado até a demissões de professores. Levantamento do sindicato aponta que houve redução de 37% das vagas pelo Fies no primeiro semestre de 2017 no Estado, em comparação com o mesmo período de 2016.
- O programa perdeu credibilidade porque mudanças constantes nas regras causam insegurança nos alunos e nas instituições - afirma Eizerik.
Instituições de ensino têm procurado alternativas para reduzir a dependência dos recursos do Fies. A PUCRS, por exemplo, decidiu dobrar, neste ano, o número de estudantes beneficiados pelo crédito educativo próprio. Pelo programa, o aluno paga metade do valor da mensalidade, e o restante após a conclusão do curso. Não há incidência de juros, mas os valores são corrigidos de acordo com o percentual de reajuste das mensalidades. No Fies, os estudantes começam a pagar depois de formados, com taxa de juros de 6,5%, abaixo dos valores de mercado.
- As instituições passaram a ter uma dependência muito grande do Fies. Em alguns casos, 50% das vagas eram preenchidas pelo programa. Aqui na PUCRS, chegamos a 12%. Hoje caímos para 8% - diz o pró-rei-tor de Administração e Finanças, Alam Casartelli.
Mesmo com a reestruturação do Fies, o CEO da consultoria Hoper e especialista em projeções do setor privado de educação, William Klein, estima que, nos próximos anos, deve se manter uma média de, no máximo, 130 mil novos contratos por ano no Fies.

Por Angela Chagas, no Zero Hora/RS

sexta-feira, 26 de maio de 2017

“A críticas ao acordo do MPF com os irmãos Batistas provêm de pessoas que antes se achavam intocáveis e agora estão em pânico”


Olhando de perto, a sensação é a de que o crime compensou. Os irmãos empresários que ficaram bilionários com obscuros empréstimos do BNDES e distribuição de propina para agentes políticos, a qual serviu como fermento para os negócios, no final, estão livres, leves e soltos, morando em uma das avenidas mais glamourosas de Nova York.
Mas, quando se abre o ângulo de visão, buscando enxergar mais longe, o quadro que se forma é bem outro.
O que tínhamos antes do acordo do procurador-geral da República com os donos da JBS/Friboi e o que temos hoje? Atualmente, temos uma situação em que o crime compensou para os colaboradores, mas não compensou para as centenas de pessoas, políticos, empresários, advogados e até um membro do MPF delatados. E antes, o que tínhamos? Uma situação de crimes múltiplos e continuados os quais sequer sabíamos de suas existências, em razão do pacto de silêncio que cria ambiente propício para que se alastrem, e que estava compensando para todos: corruptos e corruptores (...).
Quando apenas se olha para a família Batista na 5ª Avenida de Nova York, tem-se a impressão de que o acordo foi ruim para os brasileiros. Porém, quando se analisa o caso de uma maneira mais ampla, inclusive a longo prazo, pode-se enxergar que esse acordo tem potencial para elevar a um novo e bem mais alto patamar o combate às organizações criminosas que assaltam o estado brasileiro.
O instituto da colaboração premiada funciona dessa forma. Damos ao criminoso uma pena muito menor do que ele merece (ou até mesmo o isentamos de qualquer punição) e, em troca, ele nos dá condições de derrubarmos uma boa fatia do crime organizado. Pode não parecer justo, quando se olha só para o crime que o colaborador confessou, mas é efetivamente vantajoso para o combate ao crime que sangra os recursos dos brasileiros e os fazem sofrer, como estamos assistindo ao sofrimento dos cariocas e fluminenses.
Teremos novas Lavajatos a partir desse acordo, maiores até do que a atual Lavajato. Muitas das críticas ao acordo do MPF com os irmãos Batistas provêm de pessoas que antes se achavam intocáveis e agora estão em pânico, sentindo que estão cada vez mais próximas de serem alcançadas pelo braço longo da lei. Imagine quantos corruptos, nesse exato momento, não devem estar pensando ou conversando com seus advogados sobre as vantagens de se adiantarem e procurarem o Ministério Público Federal para contarem o que sabem, antes de serem delatados por comparsas, ou de o camburão da Polícia Federal os acordar ao nascer do sol. O recado está dado: quem chega primeiro, bebe água limpa.
Procurador Helio Telho, em O Estado de São Paulo

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17 de fevereiro de 1.600 é uma data fatídica. Neste dia, um herege foi executado no Campo das Flores, em Roma. Giordano Bruno foi aprisionado, torturado e, após dois julgamentos, condenado a morrer na fogueira do Santo Ofício. Seu crime? Acreditar na ideia de que o universo é infinito, de que ao redor de cada estrela gravitam planetas, e na concepção de que cada planeta irradia vida.

Ex monge dominicano, nos oito anos em que padeceu na prisão se submeteu a todo tipo de violência e opressão para que se retratasse, renegando suas convicções. O brutalizaram em vão. A congregação católica não logrou o êxito que obteria, poucos anos depois, com Galileu Galilei. Este, para não morrer na fogueira, teve que, de joelhos, abjurar toda a sua consistente obra científica e filosófica.

A ortodoxia da Igreja Católica de então concebia a terra como um planeta único no universo, resultado da intervenção direta de Deus. Um axioma que – em hipótese alguma – poderia ser questionado.

Mas, Giordano Bruno descortinou, antes da invenção do telescópio, a infinitude do universo. E que na imensidão do cosmos, existia não um, mas um número infinito de planetas. Sendo assim – questionaram os guardiões da fé – “cada planeta teria o seu próprio Jesus? Heresia! Blasfêmia! Sacrilégio! ”.

Suas ideias, formulações e livros foram proibidos, incinerados e incluídos no Index Librorum Prohibitorum, o Índice dos Livros Proibidos. 

Num ato de misericórdia, os condenados, antes de arderem no fogo da santa fogueira, eram estrangulados e mortos. Mas com Giordano Bruno foi diferente. Suas formulações representavam uma ameaça de tal dimensão aos alicerces da doutrina católica que a sentença estabeleceu que morresse diretamente em decorrência das chamas, línguas de fogo e labaredas originárias da fogueira. Seu pecado? Declarar que a terra não era o único planeta criado por Deus.

Este é o esteio de onde emerge a peça teatral “Giordano Bruno, a fogueira que incendeia é a mesma que ilumina”.

A trama se desenrola no intervalo entre a condenação do filósofo italiano e a aplicação da pena de morte. A ficção contextualiza o ambiente de transição entre a baixa idade média e a idade moderna. O ambiente de ‘caça às bruxas’, o absolutismo e o autoritarismo políticos, a corrupção endêmica, o feudalismo e a ascensão da burguesia, a ortodoxia e os paradigmas religiosos, o racionalismo e o iluminismo compõem o substrato por onde se movimentam as personagens da peça.

O conselheiro do papa Clemente VIII, o octogenário Giovanni Archetti, comanda - do Palácio do Vaticano - uma intrincada rede de corrupção e, através dela, planeja desposar a mais bela jovem da Europa, Donabella de Monferrato. A formosa mulher admira e integra um grupo de seguidores de Giordano Bruno. Para convencê-la acerca do matrimônio, o poderoso velhaco tenta ludibriá-la e mente, afirmando que promoverá a revisão do julgamento do famoso filósofo, anulando a pena de morte imposta. Sem ser correspondido, o poderoso Giovanni Archetti ama Donabella, que é amada pelo noviço Enrico Belinazzo, um jovem frade de corpo atlético que, por sua vez, é amado pelo vetusto padre Lorenzo, o diretor do seminário. 

De modo que conflitos secundários são explorados evidenciando os paradigmas da baixa idade média, os fundamentos dos novos modelos, dos novos arquétipos que surgiam em oposição ao poder do imperador do Sacro Império, do Papa e dos reis; o ocaso do feudalismo, suplantado pela burguesia que emerge como a nova classe dominante; a degeneração da política e a degradação moral e dos costumes. 

Adentre este universo povoado por conflitos, disputas, cizânias e querelas. Um enredo que, lançando mão de episódios verídicos da narrativa histórica, ambienta novelos densos e provocativos instigando os leitores a responder se o autoritarismo e a corrupção que vincaram o interim entre os séculos XVI e XVII não seriam equivalentes – em extensão, volume e grandeza - aos verificados nos dias de hoje.


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