segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Caros reitores, a quem pretendem enganar? Autonomia universitária é uma coisa, partidarismo universitário, outra!!!


Andifes busca diálogo para garantir autonomia universitária

As universidades federais vão buscar o diálogo com os ministérios da Educação (MEC) e do Planejamento e outros órgãos do governo para solucionar questões pendentes e avançar na autonomia das instituições de ensino. O tema foi debatido no seminário As Prerrogativas da Autonomia Universitária, que a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais e Ensino Superior (Andifes) promoveu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo a presidente da Andifes, Ângela Paiva Cruz, que é reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), as discussões sobre a autonomia universitária se intensificaram a partir do segundo semestre do ano passado, sempre buscando a parceria de órgãos como a Controladoria-Geral da União (CGU), Tribunal de Contas da União (TCU), Advocacia-Geral da União ( AGU ) , Procuradoria-Geral Federal (PGF) e MEC.
'É o momento de a gente refletir sobre autonomia e das nossas relações, que são sempre construtivas e esperamos que continue assim a nossa luta, com os organismos de controle que tem que ajudar a universidade na construção e no aperfeiçoamento da democracia no Brasil'.
Ângela Cruz destaca que a questão da autonomia universitária voltou à discussão porque houve um mal-entendido de que as universidades estariam promovendo atos político-partidários. Segundo ela, as universidades são o 'local natural do debate, da discussão, do embate de ideias' e que, portanto, receberam ao longo do ano passado diversos eventos sobre questões que afetam o ensino e o serviço público nacional, como a reestruturação do ensino médio, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto de gastos públicos e o programa Escola Sem Partido.
'Isso norteou algumas discussões e em alguns momentos de tensão esses movimentos foram compreendidos como um excesso por parte da universidade na sua função ou de seus dirigentes ou de seus conselhos. Então, pautar a questão da autonomia da universidade é nesse contexto de discutir o seu papel, a sua missão e as condições que ela precisa para isso'.
No mês passado, o Ministério Público Federal entrou com ação contra o reitor da UFRJ, Roberto Leher, e a presidente do Centro Acadêmico de Engenharia da UFRJ, Thais Rachel George Zacharia, por prática de improbidade administrativa por terem promovido 'atos de caráter político-partidário' dentro da universidade. Leher, que participou do seminário hoje, rebate a acusação e afirma que 'setores do Ministério Público Federal' vem 'invadindo a esfera da autonomia da universidade' em temas como a liberdade de pensamento e a liberdade de expressão.
'Estou me referindo não apenas ao meu caso, que por nós termos realizado um ato de reflexão sobre a democracia e os direitos sociais, nós fomos acusados de fazer mal uso dos Recursos Públicos. Obviamente nós recusamos esse tipo de investida porque ela afronta a autonomia. Nós propusemos uma mesa em que os diversos aspectos da autonomia pudessem ser examinados sob o ponto de vista essencialmente jurídicos'.
Segundo Ângela Cruz, a Andifes identificou outros casos de intervenção. 'O caso da UFRJ pareceu uma confusão, uma certa linha tênue e difusa entre uma ação político-partidária por parte do movimento dos estudantes ou do próprio reitor, em contraposição a essa liberdade de expressão e a autonomia que a universidade goza, e tem que ter mesmo, para que todas as ideias aqui sejam discutidas'.
Apoio à Uerj
A Andifes promoveu também ato de apoio à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que enfrenta grave crise financeira.
Durante o ato, a presidente da Andifes, Ângela Cruz, ressaltou que as universidades estaduais têm cumprido um papel importante na oferta de vagas na educação superior. 'Nós passamos um pouco dos 10%; a maior parte dessa oferta se dá no setor privado e entendemos que os jovens brasileiros precisam dessa oportunidade. Pela sua situação econômica de vulnerabilidade social, precisam de um percentual maior de vagas no setor público', disse no ato, realizado na Uerj.
Ela disse que as entidades ligadas à Andifes buscarão diálogo para ajudar a Uerj.
Segundo o reitor da UFRJ, Roberto Leher, a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e a Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) também foram atingidas pela crise econômica do estado, o que pode ser 'o prelúdio de uma triste história das universidades brasileiras' e também destacou que 66% dos estudantes em universidades públicas vêm de classes mais baixas, com renda familiar de um salário mínimo e meio.
O reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), João Carlos Salles Pires da Silva, disse que o ato demonstra a necessidade do comprometimento do Estado, em nível federal ou estadual, com as garantias da oferta de um ensino de qualidade. 'Mais do que defender uma instituição como a Uerj, pela sua história, pelas pessoas, nós estamos defendendo um princípio que é associado à história do nosso país e à importância da inclusão de uma parcela cada vez mais significativa no ensino superior de qualidade'.
O reitor da Uerj, Ruy Garcia Marques, disse que a crise enfrentada pela instituição está 'totalmente dependente' da situação de calamidade pública do estado do Rio de Janeiro. Ele prevê uma solução somente em médio prazo. 'Creio que a gente possa, até meados do ano, já começar a ver alguma modificação positiva no nosso cenário', acrescentando que a própria universidade terá de contribuir, reduzindo custos.
Por causa da falta de recursos, a universidade adiou o início das aulas e suspendeu atividades e pesquisas.

Carolina Pimentel, na Agência Brasil

______________________

Educação, teatro e folclore: uma coleção com dez livros

A maior coleção interagindo educação, teatro e folclore, já lançada no país. 

São dez volumes abordando 19 lendas do folclore brasileiro:

Livro 1 - O coronel e o juízo final
Livro 2 - A noite do terror
Livro 3 - Lobisomem – O lobo que era homem
Livro 4 - Cobra Honorato
Livro 5 - A Mula sem cabeça
Livro 6 - Iara, a mãe d’água
Livro 7 - Caipora
Livro 8 - O Negrinho pstoreiro
Livro 9 - Romãozinho, o fogo fátuo
Livro 10 - Saci Pererê

Dez comédias para o público infanto-juvenil, onde a cultura popular do país é retratada através de uma dramaturgia densa, mas, ao mesmo tempo, hilariante, alegre e divertida.

Para saber mais, clique aqui.

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Leitura on-line estimula o hábito em crianças


Com a chegada da internet à vida das crianças, torna-se cada vez mais difícil tirá-las da rede e fazer com que foquem nas atividades que as tiram da frente da tela do computador.

Trata-se de uma realidade que pode impactar de forma negativa uma série de atividades saudáveis para o desenvolvimento e aprendizagem dos pequenos, como a prática da leitura.

Diante desse cenário, como fazer com que as crianças não percam o interesse pelos livros? Bem, a saída está em mesclar aquilo que elas gostam de manipular com o que elas devem ter presente no dia a dia.


Faça da internet uma aliada

A princípio, pode parecer uma tarefa difícil, mas o suporte dos pais nessa transição é fundamental. Os mesmos podem começar demonstrando como a internet se torna uma ferramenta de busca para leituras interessantes e dinâmicas.

Tablets e laptops permitem que milhares de títulos sejam carregados para onde quer que se vá, tornando-se uma opção portátil que acompanha a criança em diversos ambientes. Sites como a Leiturinha oferecem uma biblioteca online para assinantes, com livros selecionados para cada faixa etária.

O fato de estar conectada à internet permite que a criança realize pesquisas sobre o tema abordado no livro conforme a mesma progride com a leitura, estimulando mais ainda a curiosidade e o interesse pela busca de informações. O fato de ler livros online já faz com que a criança:


- Comece a se interessar por tecnologia e assunto correlatos;

- Exercite outras habilidades motoras ao manusear tablets e iPads;

- Conheça sempre novas tecnologias e esteja mais preparada para inovações.

É importante salientar que cabe aos pais o controle ao acesso que elas têm ao conteúdo disponibilizado na internet, limitando-o apenas a livros que correspondam à idade das crianças. É preciso ter cuidado com a exposição dos pequenos ao conteúdo impróprio que permeia a rede.

No mundo virtual

O segredo, assim como na leitura tradicional de livros físicos, está no estímulo. Os pais podem iniciar com medidas simples, porém, eficazes:

- Convidar a criança a manusear os dispositivos para despertar o interesse pela leitura dinâmica, deixando com que ela descubra os recursos que a internet proporciona;

- Demonstrar que a leitura é para todos, fazendo-se mostrar adepto do hábito;

- Fazer leitura em voz alta e deixar que a criança observe o computador, tablet ou laptop em uso;

- Participar da leitura, tornando esse momento uma atividade familiar em que cada um incorpora um personagem da história;

- Deixar que a criança convide os amigos para ler livros dentro de casa, criando um ambiente divertido e propício ao aprendizado.
No jornal A Tribuna
_______________

Educação, Teatro e Folclore: uma coleção com 10 livros.
 

A maior coleção interagindo educação, teatro e folclore, já lançada no país. 

São dez volumes abordando 19 lendas do folclore brasileiro:

Livro 1 - O coronel e o juízo final
Livro 2 - A noite do terror
Livro 3 - Lobisomem – O lobo que era homem
Livro 4 - Cobra Honorato
Livro 5 - A Mula sem cabeça
Livro 6 - Iara, a mãe d’água
Livro 7 - Caipora
Livro 8 - O Negrinho pstoreiro
Livro 9 - Romãozinho, o fogo fátuo
Livro 10 - Saci Pererê

Dez comédias para o público infanto-juvenil, onde a cultura popular do país é retratada através de uma dramaturgia densa, mas, ao mesmo tempo, hilariante, alegre e divertida.

Para saber mais, clique aqui.




sábado, 25 de fevereiro de 2017

Ler regularmente aumenta sua expectativa de vida, diz estudo


Para manter a saúde, algumas medidas óbvias são essenciais: não fumar, fazer exercícios e ter uma boa dieta, por exemplo. Mas um novo estudo publicado no periódico Social Science and Medicine descobriu uma alternativa mais incomum. Segundo os pesquisadores, quem lê livros regularmente consegue viver por muito mais tempo.

Com testes envolvendo mais de 3 mil pessoas, eles perceberam que aqueles que dedicam mais tempo à leitura — cerca de 3 horas por semana — tendem a viver pelo menos dois anos a mais do que os participantes que não costumam ler. O resultado parece ter relação principal com a melhoria cognitiva adquirida durante a leitura. Outros fatores, como idade, sexo e nível de escolaridade, não representaram mudanças na pesquisa.

Durante 12 anos, o grupo dividiu os participantes em três grupos: quem nunca lia nada, quem lia por até 3,5 horas semanais ou menos e aqueles que liam por mais de 3,5 horas toda semana.

Mesmo no segundo grupo, a probabilidade dos leitores ocasionais morrerem nos anos seguintes já era 17% menor do que entre aqueles que não costumavam ler.

“Ao ler livros, parece que criamos uma vantagem de sobrevivência maior do que entre aqueles que não dedicam tempo a esse tipo de atividade”, observaram os cientistas. “A leitura envolve processos cognitivos que promovem a inteligência emocional, empatia e percepção social, características que sempre favoreceram a longevidade e sobrevivência humana.”
Na revista Galileu

_________________
O livro com vinte contos dramáticos. Para saber mais, clique aqui.
Para comprar o livro, clique aqui.




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Lobos e vovozinhas


Se analisamos os projetos — anistia, proibição de o TSE punir partidos com contas irregulares — tudo vai na mesma direção: legislar para se safar

Deve haver muitas formas de paranoia. Conheço pelo menos duas. A que usa os fatos, deformando-os para parecerem uma grande ameaça. E a que tem um tal dinamismo interno que chega a dispensar os próprios fatos. Não considero que nenhuma dessas formas está presente quando se afirma que a Operação Lava-Jato está ameaçada. Não é preciso estar muito longe de Brasília para perceber isso. Por acaso, estou, relativamente perto, no Brasil central. Mas de qualquer ponto do país, a sucessão de projetos de anistia e blindagem é impressionante.
Para mim, tudo ficou muito claro quando escolheram Lobão para a Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Não tenho mais idade para duvidar: seus braços são tão longos, vovozinha; seus olhos são tão grandes; sua boca é tão grande vovozinha. É o Lobão, ponto.
A mais nova tentativa é de Romero Jucá. Um projeto para blindar presidentes da Câmara e do Senado. Segundo ele, não podem responder por crimes anteriores à sua posse no cargo. Na verdade, estende para os dois a mesma prerrogativa do presidente da República.
Se analisamos o conteúdo de todos os projetos mencionados — anistia, proibição de o TSE punir partidos com contas irregulares — tudo vai na mesma direção: legislar para se safar.
Leio que a Lava-Jato em Curitiba ficou satisfeita com a escolha de Alexandre de Moraes para o STF. Inclusive acredita que ele vota pela prisão de acusados julgados em segunda instância: algo que realmente evita que as pessoas recorram em liberdade por anos a fio.
No entanto, um ministro do supremo não julga apenas a Lava-Jato. Ele continua no seu posto por anos. Lewandowski e Dias Toffoli julgaram o mensalão e seguem firmes tratando de muitos casos. Recentemente, Toffoli soltou o ex-ministro Paulo Bernardo numa decisão polêmica.
Temer parece ter sentido a reação em defesa da Lava-Jato. E anunciou esta semana as regras que deveria ter anunciado no primeiro dia de governo. A partir de agora ministros denunciados se afastam e, caso se tornem réus, deixam o governo.
Não acredito que essa permanente tentativa de blindagem dos políticos será atenuada. Nem vejo dinamismo no STF para julgar todos os casos com alguma rapidez. Isso não significa que muitos não possam ser condenados no futuro. Mas deixa para 2018 uma única ferramenta de transformação: o voto.
Apesar de a sociedade brasileira ter amadurecido, não creio que apenas o voto poderia fazer com que o Congresso passasse, de alguma forma, a considerar as aspirações do país de uma forma prioritária. Ele pode realizar reforma econômicas, evitar a quebradeira e ajudar o Brasil a reencontrar seu caminho. Mas não abre mão dos privilégios e do velho esquema de corrupção que o domina há tanto tempo.
Na juventude, costumava ironizar o lema de um partido brasileiro, chamado UDN: o preço da liberdade é a eterna vigilância. Vivíamos num tempo de Guerra Fria, mas ainda assim perguntava: se não temos um segundo para relaxar, que tipo de liberdade é essa?
Hoje, não mais num contexto de luta ideológica como no passado, combatemos ladrões em todos os pontos do espectro político. Não é possível baixar a guarda. Diria até que uma ponta de paranoia é necessária, porque mesmo quando não parecem estar tramando algo, estão em plena atividade. As ligações telefônicas entre a cúpula do PMDB, reveladas por Sérgio Machado, eram uma clara tentativa de sabotar a Lava-Jato, algo que agora fazem abertamente.
Renan Calheiros encarna como ninguém essa tentativa. Ele é investigado em 12 processos, alguns antigos, e agora passa a ser investigado por obstrução à Lava-Jato, junto com a cúpula do PMDB. Quanto tempo levará para ser julgado nos casos investigados? Quanto tempo levará para ser julgado por obstruir as investigações?
Eles não param nunca. Quando não estão roubando, estão obstruindo a investigação, ou, em certas horas, fazendo as duas coisas simultaneamente. E o ritmo do STF é feito para que se movam em paz, seduzindo os que aspiram à reforma econômica, mobilizando os que descobriram direitos legais de acusados, depois que a elite começou a ser presa, enfim vão formar um grande caldeirão destinado a cozinhar a sopa da mesmice brasileira.
Não creio que seja paranoia observá-los constantemente e denunciá-los nas ruas. Diria até que não devemos nos preocupar tanto por estar batendo neles: eles sempre sabem porque estão apanhando.
Por mais ridícula e despreparada que pareça, a classe política brasileira é mestre universal na arte de sobreviver às denúncias. Eu mesmo me equivoquei. Sempre denunciei o Sérgio Cabral como se fosse um simples corrupto que comprava mansões e se divertia em viagens no exterior. Jamais imaginei que estava lidando com o maior ladrão da História do Brasil e que todas aquelas viagens eram também viagens de negócios para administrar sua fortuna.

A resistência no Brasil não pode ser acusada de paranoia. Diante dos adversários calejados ela às vezes se parece com a ingenuidade do Chapeuzinho Vermelho.
Por Fernando Gabeira, em O Globo

______________

O que ensina Shakespeare sobre a corrupção no Brasil contemporâneo?
Para saber mais, clique aqui.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

“A Operação Lava Jato precisa chegar ao poder Judiciário”


Para a jurista Eliana Calmon, escândalo de corrupção que já respingou no Executivo e no Legislativo precisa alcançar todos os poderes
Não é de hoje que a jurista Eliana Calmon, de 72 anos, polemiza com seus pares da magistratura. Em 2011, quando ocupava o cargo de corregedora nacional de Justiça, ela afirmou que “bandidos de toga” estavam infiltrados no Judiciário. A declaração a colocou em rota de colisão com associações de juízes e magistrados, e posteriormente ela disse ter sido mal interpretada: "Eu sei que é uma minoria. A grande maioria da magistratura brasileira é de juiz correto". Seis anos depois, com o país mergulhado no escândalo de corrupção da Petrobras, que mobiliza juízes de diversas instâncias com processos da Operação Lava Jato, Calmon volta à carga, e afirma que é preciso apurar a responsabilidade do Judiciário no caso.
Pergunta. Como você avalia a Lava Jato até o momento?
Resposta. A Lava Jato foi um divisor de águas para o país. A partir dela vieram à tona as entranhas do poder brasileiro, e sua relação com a corrupção em todos os níveis de Governo. Mas para que tudo isso fique muito claro, seja passado a limpo de fato, precisa se estender para todos os poderes. Muitos fatos envolvendo o Executivo e o Legislativo vieram à tona, mas o Judiciário ficou na sombra, é o único poder que se safou até agora.
P. Você acha que membros do Judiciário também tiveram um papel no escândalo de corrupção?
R. O que eu acho é o seguinte: a Odebrecht passou mais de 30 anos ganhando praticamente todas as licitações que disputou. Enfrentou diversas empresas concorrentes, muitas com uma expertise semelhante, e derrotou todas. Será que no Judiciário ninguém viu nada? Nenhuma licitação equivocada, um contrato mal feito, que ludibriasse e lesasse a nação? Ninguém viu nada? Por isso eu digo que algo está faltando chegar até este poder. Refiro-me ao Judiciário como um todo, nas três instâncias. Na minha terra, na Bahia, todo mundo sabia que ninguém ganhava nenhuma causa contra a Odebrecht nos tribunais. O que eu questiono é que em todas estas décadas em que a empreiteira atuou como organização criminosa nenhum juiz ou desembargador parece ter visto nada... E até agora nenhum delator mencionou magistrados.
P. Mas não existe um corporativismo no Judiciário que dificultaria processos contra os magistrados?
R. Os juízes exercem atividade jurisdicional para serem isentos. Ponto. É o seguinte: o juiz de primeiro grau é processado perante o próprio tribunal. O de segundo grau é processado pelo Superior Tribunal de Justiça, e os ministros pela Suprema Corte.
P. Como vê a indicação do senador Edison Lobão (PMDB-PA), investigado pela Lava Jato, para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do Senado?
R. Um presidente que está com seu ibope tão baixo quanto está o Michel Temerdeveria ser mais cauteloso. Do ponto de vista jurídico nada impede que ele articulasse com a bancada do PMDB no Senado para colocar o Lobão na presidência. Mas em razão do envolvimento dele no processo da Lava Jato melhor seria que ele ficasse de fora. Por outro lado, a decisão era da bancada do partido, que é majoritária, então isso é normal. Se não fosse o Lobão ia botar quem? Está todo mundo comprometido. Você fecha o olho e pega um parlamentar... Pegou um corrupto! Pegou outro, corrupto!

P. O que achou da indicação do ministro da Justiça licenciado, Alexandre de Moraes, para a vaga de Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal?
R. Eu gostei da indicação. Aí todo mundo me pergunta “ah, mas o Moraes é político!”. Olha, eu gostei porque conheço ele e conheço os outros que foram cotados para assumir a vaga... E aí você conclui o que quiser. Esta história dele ser político, ora, eu conhecia os outros candidatos e não tinha ninguém bobo. Todos no STF têm inclinações políticas. Não é por amizade que apoio o nome dele. O que acontece é que ele é jovem e muito talentoso, tem livros maravilhosos sobre direito. É brilhante como intelectual e como militante na advocacia. Agora, se ele vai vender a alma ao diabo ou não, aí temos que ver...
P. Enquanto os processos da Lava Jato na primeira instância avançam com rapidez, no STF o ritmo é diferente. O que provoca essa lentidão na Corte Suprema?
R. O processamento das ações nos tribunais anda a passos de cágado. Não é só o Teori Zavascki ou o Edson Fachin [ex-relator e atual relator da Lava Jato no STF] que são responsáveis por isso. A tramitação do processo é muito lenta, e é óbvio que aqueles que detêm foro especial não têm interesse em fazer com que o processo, com que essas ações penais andem rápido. A legislação é cruel, há uma dificuldade de fazer andar esses processos. Veja na primeira instância, por exemplo: o Sérgio Moro recebe uma denúncia, e ele faz um juízo de valor, acolhendo ou não. Se acolheu, o denunciado já se torna réu. Agora no foro especial, quando o relator recebe a denúncia, ele nem inicia a ação penal. Ele abre uma intimação para que o indiciado na denúncia venha se defender. Só depois dessa defesa é que ele leva para a corte. Isso estende muito o processo, é muito demorado. E só depois disso começa o processamento.
“O processamento das ações nos tribunais anda a passos de cágado”
P. Temer foi muito criticado por ter nomeado Moreira Franco, citado dezenas de vezes na Lava Jato, para um ministério. Acha correta a nomeação?
R. Eu acho que se o Ministério Público com base em fatos incontroversos faz uma reclamação formal contra um ministro, eu entendo que não deveria ser nomeado. Ele [Temer] deu aquela desculpa meio esfarrapada [que afastaria quem fosse denunciado] mas a nação teve que engolir. No final de contas é a mesma situação que ocorreu com o Lula, mas dessa vez em decisão monocrática o ministro Celso de Mello avaliou que ele poderia tomar posse.
P. O juiz Sérgio Moro tem sido muito criticado desde o início da Lava Jato pelo que alguns consideram como sendo um abuso nas prisões preventivas. Como você vê essa questão?
R. O Moro é muito dinâmico, conhece muito este processo específico, uma vez que ele acompanha o caso e seus desdobramentos desde o início. Isso dá celeridade ao processo, e acho que isso é algo que deve ser aplaudido. Quanto às críticas envolvendo prisões preventivas, a culpa é do STF que não julga os pedidos de liberdade feitos pela defesa. Em última instância, os pedidos de habeas corpus cabem ao Supremo.
Por GIL ALESSI, no El País

________________

A comédia que disseca o poder judiciário. Para saber, clique aqui.
Para comprar o livro, clique aqui.



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Mario Vargas Llosa: “é um milagre que Sérgio Moro continue vivo”


O furacão Odebrecht
Casos de corrupção em países da América Latina são chance para regenerar a democracia
Algum dia teremos de erigir um monumento em homenagem à empresa brasileira Odebrecht, porque nenhum governo, empresa ou partido político fez tanto quanto ela desvelando a corrupção que corrói os países da América Latina, nem trabalhou com tanto ânimo para fomentá-la.
A história possui todos os ingredientes de um grande thriller. O empresário brasileiro Marcelo Odebrecht, dirigente da companhia, condenado a 19 anos e 4 meses de prisão, com seus principais executivos, depois de passar algum tempo entre as grades manifestou, para ter sua pena rebaixada, sua disposição em relatar todas as safadezas que cometeu – no Brasil, chamam isso de delações premiadas.
Ele começou a falar e da sua boca – e das bocas de seus executivos, saíram cobras e venenos que fizeram tremer todo o continente, a começar pelos seus presidentes, atuais e anteriores. Marcelo Odebrecht me lembra o tenebroso Gilles de Rais, o valente companheiro de Joana D’Arc, que, chamado pela Inquisição da Bretanha para responder se era verdade que havia participado de um ato de satanismo com um cômico italiano, disse que sim, e, além disso, havia violado e assassinado mais de 300 crianças porque apenas cometendo tais horrores ele sentia prazer.
A empresa Odebrecht gastou cerca de US$ 800 milhões em propinas pagas a chefes de Estado, ministros e funcionários de governos para ganhar licitações e obter contratos que quase sempre eram escandalosamente supervalorizados, permitindo à companhia contabilizar lucros enormes. Isso vinha ocorrendo há muitos anos e, por acaso, nunca haveria uma punição se entre seus cúmplices não houvesse um grande número de diretores da Petrobras, petrolífera brasileira que, investigada por um juiz fora do comum, Sérgio Moro, que abriu a caixa de Pandora – aliás, é um milagre que ainda continue vivo.
Ramificações. Até o momento, há três mandatários latino-americanos implicados nos negócios sujos da Odebrecht fora do Brasil: os do Peru, da Colômbia e do Panamá. E a lista só começou. Quem está na situação mais difícil é o ex-presidente peruano Alejandro Toledo, a quem a Odebrecht teria pago US$ 20 milhões para conseguir os contratos de dois trechos da Rodovia Interoceânica que une, através da selva amazônica, Peru e Brasil.
Toledo, que está fora do Peru na condição de foragido, foi condenado por um juiz à prisão preventiva de 18 meses, enquanto o caso é investigado. As autoridades peruanas comunicaram o fato à Interpol e o presidente Kuczynski telefonou ao presidente americano, Donald Trump, pedindo sua deportação para o Peru – Toledo tem um emprego na Universidade Stanford. O governo israelense informou que não o receberá em seu território enquanto não ficar esclarecida sua situação legal. Até agora, Toledo tem se negado a retornar ao Peru, alegando ser vítima de perseguição política, algo em que nem seus mais inflamados partidários – e são poucos – acreditam.
Fico muito entristecido com esse envolvimento de Toledo porque, como lembrou Gustavo Gorriti em um dos seus excelentes artigos, ele liderou com grande carisma e coragem há 17 anos a formidável mobilização popular no Peru contra a ditadura assassina e cleptomaníaca de Alberto Fujimori, tendo sido um elemento fundamental para sua derrubada.
Não apenas eu, mas toda minha família, o apoiamos com entusiasmo. Meu filho Gonzalo gastou todas as economias que possuía na grande Marcha de los Cuatro Suyos, em que milhares, talvez milhões, de peruanos manifestaram em todo o país em favor da liberdade.
Meu filho Álvaro deixou todos os seus afazeres para apoiar em tempo integral a mobilização em favor da democracia e, depois da derrubada de Fujimori, participou da campanha presidencial de Toledo até o primeiro turno, e foi um dos seus colaboradores mais próximos. Mas depois algo estranho sucedeu: ele rompeu com Toledo, de maneira precipitada e ruidosa. Alegou ter ouvido em uma reunião algo que o alarmou muito: Josef Maiman, o magnata israelense, afirmou que queria comprar uma refinaria que pertencia ao Estado e um canal de TV.
Maiman, segundo denúncias da Odebrecht, atuou como testa de ferro do ex-presidente e serviu de intermediário, fazendo chegar às mãos de Toledo pelo menos 11 dos US$ 20 milhões recebidos para favorecer a empresa na obtenção de contratos públicos. Quando isso ocorreu, achei que a suscetibilidade do meu filho Álvaro era exagerada e injusta e até nos distanciamos um pouco. Hoje, peço desculpas a ele e o aplaudo por suas suspeitas e o olfato justiceiro.
Espero que Toledo retorne ao Peru por vontade própria, ou que o tragam para o país, e seja julgado com imparcialidade. Diferente do que se verificou na ditadura fujimorista, hoje isso é perfeitamente possível. E se for declarado culpado que pague pelos roubos e a traição cometida contra milhões de peruanos que votaram nele e o seguiram em sua campanha pela democratização do Peru contra os usurpadores e golpistas.
Tive bastante contato com Toledo naqueles dias e me parecia um homem sincero e honesto, um peruano de origem muito humilde que pelo esforço tenaz havia – como gostava de dizer – “derrotado as estatísticas”. Eu tinha certeza de que ele faria um bom governo.
O certo é que – safadezas à parte, se ocorreram – tudo foi feito muito bem, pois nos seus cinco anos de governo foram respeitadas as liberdades públicas, a começar pela liberdade de uma imprensa que entrou em choque com ele, e pela boa política econômica, de abertura e incentivos aos investimentos, que propiciou o crescimento do país.
Tudo isso foi esquecido desde que foi descoberto que ele havia adquirido imóveis caros, embora tenha alegado que tudo fora comprado por sua sogra com dinheiro do célebre Josef Maiman. Desculpas que, em vez de eximi-lo de culpa o comprometeram ainda mais.
Onda. As delações premiadas da Odebrecht constituem uma oportunidade magnífica para os países latino-americanos punirem severamente os governantes e ministros corruptos das frágeis democracias que substituíram, na maior parte dos nossos países – exceção de Cuba e Venezuela – as antigas ditaduras.
Nada é mais desmoralizador para uma sociedade do que ver que governantes que chegaram ao poder com o voto do eleitor comum aproveitaram seu mandato para enriquecer, infringindo leis e vilipendiando a democracia. Hoje, a corrupção é a maior ameaça ao sistema de liberdades que vem prosperando na América Latina depois dos grandes fracassos das ditaduras militares e dos sonhos messiânicos dos revolucionários.
É uma tragédia que, no momento em que a maioria dos latino-americanos começa a se convencer de que a democracia liberal é o único sistema de governo que garante um desenvolvimento civilizado, na convivência e na legalidade, o roubo frenético cometido por governantes corruptos conspire contra essa tendência positiva. Aproveitemos as delações premiadas da Odebrecht para puni-los e demonstrar que a democracia é o único sistema capaz de regenerar-se a si mesmo.
Por Mario Vargas Llosa, em O Estado de São Paulo


______
Shakespeare e a corrupção no Brasil. Para saber, clique aqui.

Para comprar o livro, clique aqui.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Escola acaba com a lição de casa e índice de leitura aumenta


É possível acabar com a lição de casa? Uma escola norte-americana está provando que sim – e mais: com apoio dos pais e bons efeitos colaterais. Passados cinco meses do início de uma política que aboliu as tarefas de casa na Orchard Elementary, escola primária localizada no distrito de South Burlington, nos Estados Unidos, os pais dos estudantes relatam que os índices de leitura de seus filhos têm melhorado.

A medida foi tomada antes do início do ano letivo, quando os professores da instituição decidiram, por unanimidade, extinguir o dever de casa dos alunos do jardim de infância até a quinta série. Ao invés disso, no entanto, os estudantes são incentivados a ler, brincar e “serem crianças”. A proposta recebeu o apoio de cerca de 80% dos pais que responderam à pesquisa realizada pela direção da escola.

“Nosso filho está no primeiro ano e, em sua idade, [a lição de casa] é tanto uma tarefa para os pais como para os pequenos. Em vez disso, passamos o tempo lendo, não precisamos nos apressar”, disse Rani Philip, mãe de um estudante, em entrevista ao Burlington Free Press. Outros pais também se mostraram surpresos com a medida de não haver tarefa de casa, mas também afirmaram que seus filhos estão lendo mais.

Especialistas em Educação, no entanto, defendem que a lição de casa é uma oportunidade para a criança complementar os estudos, mas que para isso ela precisa ter seus objetivos bem delimitados. Entre eles estão o de fixar ou dar significado ao conteúdo que foi visto em sala de aula ou desenvolver habilidades cognitivas, por exemplo.

O primeiro aspecto a ser destacado, como lembra Daniele Saheb, doutora em Educação e coordenadora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), são as diferenças culturais entre os países que têm reflexos diretos sobre seus sistemas de ensino. “Nos Estados Unidos, por exemplo, as crianças passam mais tempo na escola durante o ensino fundamental do que no Brasil, onde o período costuma ser de quatro horas diárias”, pontua.

Neste sentido, uma das principais funções da tarefa de casa é a de possibilitar ao aluno desenvolver o hábito e a autonomia para o estudo, como acrescenta Viviane Stacheski, coordenadora dos cursos de pós-graduação em Educação Infantil, Alfabetização e Letramento do Centro Universitário Internacional Uninter.

“Se a criança não desenvolve isso nas séries iniciais, ficará mais difícil para ela fazê-lo na adolescência, o que poderá acarretar prejuízos a partir do sexto ano, período no qual os alunos passam a ter as disciplinas separadas por aulas [e precisam aprender a organizar os estudos]”, explica.

Preocupação

Mesmo aprovando a medida, muitos pais da Orchard Elementary manifestaram a preocupação de que, sem a lição de casa, seus filhos não desenvolvam habilidades que os auxiliarão a serem bem-sucedidos nos demais anos escolares. Alguns deles, inclusive, esperam que um trabalho adicional seja desenvolvido na quinta série como forma de evitar possíveis prejuízos.

Nem todos os pais, no entanto, concordaram com a extinção da l ição de casa pela escola. A mãe de um estudante contou ao Burlington Free Press que optou por tirar a filha da instituição e a matricular em uma escola na qual a criança tem cerca de 30 minutos de tarefa por noite.

Complemento do estudo

As especialistas lembram que as discussões sobre a necessidade ou não de as crianças levarem tarefas para casa são amplas e envolvem diferentes vertentes, que vão de sua quantidade e objetivo ao papel que a família desempenha junto aos filhos nos momentos em que ele está fora da escola.

Por isso, é necessário que as tarefas sejam bem planejadas pelos professores, de forma que não se tornem muito longas e/ou que os estudantes tenham condições de resolvê-las sozinhos.

“A tarefa não pode ter uma conotação tecnicista, no sentido de simplesmente ocupar o tempo da criança”, orienta Daniele, da PUCPR. Ela acrescenta, ainda, que a aprendizagem não acontece só no período escolar, o que faz com que a participação e o comprometimento da família sejam fundamentais para se garantir a qualidade do tempo que a criança passa fora da escola.
Gazeta do Povo