quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Revolução artística do dadaísmo faz 100 anos

Movimento foi iniciado por grupo internacional de artistas como reação à carnificina da Primeira Guerra Mundial. Tudo começou com eventos de estilo anárquico, promovidos no lendário Cabaret Voltaire, em Zurique.
Capa da revista berlinense "Der Dada", de 1919
Hugo Ball, Tristan Tzara e Marcel Janco se encontraram em 5 de fevereiro de 1916 em Zurique com o ambicioso plano de provocar nada menos do que uma revolução artística. O Cabaret Voltaire, que haviam fundado naquela noite, era uma combinação de pub, teatro, galeria e clube noturno.
Ao longo daquele ano, eles organizaram eventos imprevisíveis, combinando caóticas performances, recitais de poesia e música. Uma apresentação filmada dá uma impressão do estilo anárquico que imperava no Cabaret Voltaire. Hugo Ball, o artista alemão pioneiro da poesia fonética, aparece no palco fantasiado como uma espécie de mestre-cuca espacial e recita um poema que começa com "Blago bung, fataka Bosso. Schampa wulla wussa..."
Para os não iniciados, tudo provavelmente parecia um hospício – e ainda assim era o início de um movimento de arte totalmente novo ou, melhor, uma antiarte, como seus fundadores a definiam. O nome do clube noturno dadaísta era uma homenagem ao autor do iluminismo francês Voltaire, que no século 18 já atacava o establishment, e é especialmente famoso por sua sátira filosófica Cândido ou O otimismo.
Local onde o movimento começou: Cabaret Voltaire de Zurique
Cavalo de pau, linguagem de bebê, tônico capilar
Dois anos após o início da Primeira Guerra Mundial, horrorizados com o conflito sangrento, artistas de Colônia, Berlim, Nova York, Paris, Moscou e Budapeste se reuniram na neutra Zurique. Foi o movimento artístico mais internacional até então. Seus membros individualistas se uniram todos sob o desejo comum de fornecer uma reação artística ao absurdo da guerra.
De acordo com uma versão, o nome para o movimento anarquista "dada" foi encontrado por acaso em um dicionário francês-alemão, e significa "cavalo de pau". Outros dizem tratar-se simplesmente de uma onomatopeia para a fala de bebê. Numa coincidência que enfatiza o absurdo do grupo, Dada também era um tônico suíço contra queda de cabelo.
"A fonte": em "ready made", Marcel Duchamp declara um mictório como arte
Após a guerra, o dadaísmo se transferiu de Zurique aos principais centros culturais do mundo. Tristan Tzara foi o principal promotor do movimento em Paris, acompanhado por André Breton. Kurt Schwitters criou sua própria interpretação do dadaísmo em Hannover, batizando-o de Merz.
Tendo obtido a permissão de Tzara para utilizar o nome, os dadaístas de Berlim lançaram em 1919 a revista Der Dada. Uma das figuras-chave do movimento berlinense, que atacava a Igreja e o Estado, foi o artista e autor austríaco Raoul Hausmann.
Marcel Duchamp mudou para sempre o significado da arte com seus ready mades. Hans Richter transpôs a nova estética em seus filmes experimentais. Sob a liderança de André Breton, houve um racha no grupo parisiense, dando início ao surrealismo e provocando a dissolução gradual do movimento dadaísta.
Em 2016, um século depois, vários museus comemoram o centenário do dadaísmo, particularmente em Zurique e no Museu Arp de Rolandseck, no estado alemão da Renânia-Palatinado.
Por Sabine Oelze (md), na Deutsche Welle