quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Quando a cadeia resta como única alternativa


Um vendaval varre o país, de costa a costa, reduzindo a pó tudo que se coloque à frente. A destruição causada é pior que a provocada pelo tsunami asiático ou pelo furacão Katrina.

O que vem corroendo e solapando o Brasil tem efeitos muito mais devastadores que o somatório de terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, tornados e furacões. Todos os dias, um dia sim e o outro também, as primeiras páginas dos grandes jornais estampam a insidiosa tragédia brasileira. Nos noticiários televisivos as cenas se desenrolam numa repetição maquiavélica, abjeta, repugnante. Nas fábricas, nas escolas, nos bares, nas esquinas e nos encontros sociais, a conversa é uma só - envolta num clima denso onde se misturam revolta, indignação e vergonha: a corrupção que grassa e consome as energias do país; a corrupção avassaladora e incontrolável.

É cada vez mais comum assistir na TV políticos, juízes e empresários algemados, rostos cobertos por uma providencial vestimenta, sendo aprisionados em suas mansões luxuosas, em seus iates cinematográficos.

Ao contrário de diminuir, a corrupção vem crescendo, de forma assustadora, no país. E este crescimento ignora o fortalecimento de organizações da sociedade civil e de instituições importantes para a democracia como o Ministério Público, a Controladoria Geral da União e a Polícia Federal.

Uma novidade roubou a cena nesta ultima versão da tragédia nacional. A máscara - por séculos ostentada pelo poder judiciário – caiu, e o semblante que emergiu por detrás do adereço, aterroriza, amedronta, exala podridão. Uma das mais recentes ações da Polícia Federal, a Operação Hurricane, está mostrando que a imparcialidade da justiça não tem passado de figura de retórica. Bastaram algumas investigações para descobrir que os bingos continuavam funcionando graças às liminares obtidas às custas de propina, tráfico de influência e muita corrupção.

Bem recentemente, a nação assistiu estarrecida ao desenrolar de mais um escândalo: a Operação Navalha, que derrubou um ministro de estado e colocou o Congresso Nacional pisando em brasas.

Não é por menos. Os políticos estão sempre, invariavelmente, no olho do furacão. Na máfia que ficou conhecida como das sanguessugas, 72 deputados e senadores foram acusados. Representavam, nada mais, nada menos, que nove diferentes partidos políticos. No mensalão de Marcos Valério, Duda Mendonça & Cia., 22 parlamentares representando oito agremiações políticas foram envolvidos. Na Operação Navalha, até o momento, nove partidos já foram pegos com a boca na botija, com as mãos e os pés inteiramente atolados na lama.

A corrupção custa anualmente ao país R$ 1,5 bilhão. É dinheiro que poderia estar alavancando a economia, gerando renda, oportunizando empregos. Mas vai parar direto nas contas de larápios profissionais, ladrões de colarinho branco, marginais que não se incomodam com os indecentes indicadores sociais; com a fome, a miséria, o desemprego e a exclusão que alcançam cada vez mais brasileiros.

A corrupção não é um problema restrito ao Brasil. Ela ocorre em todos os países do mundo, sem exceção. Mas nos países que decidem combatê-la ferrenhamente, o desenvolvimento floresce. Estudos promovidos pelo Banco Mundial não dão margem para dúvidas: os países que implementam medidas de combate e controle da corrupção asseguram, no longo prazo, aumento da renda per capta em até 300%, além de reduzir a mortalidade infantil em 66%.

Mas nada disso é capaz de demover políticos, empresários e juízes quando seduzidos pela cantilena da corrupção. Para esta categoria de pessoas o que resolve mesmo é cadeia. De preferência cumprindo pena naqueles presídios rigorosos, onde foi instituído o regime disciplinar diferenciado. Afinal, cadeia não foi feita para bandido?

Antônio Carlos dos Santos é o criador da metodologia de planejamento estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo. acs@ueg.br